segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Mês da Bíblia 2014

Texto: Celina Pereira 


A partir do Evangelho de Mateus, com o Tema: “Vão e façam às nações minhas discípulas”- Missão de Jesus –Missão das Comunidades. Iniciamos a formação para o mês da Bíblia, no Centro Social de Nazaré (Basílica), neste mês de agosto. Estiveram presentes neste curso sessenta e sete pessoas contando com a equipe do CEBI-PARÁ responsável por facilitar o estudo.

Foram quatro noites de descobertas da Nova Lei, ou seja, da nova maneira de construção do Reino de Deus, partindo dos conflitos vividos pelos cristãos da época, desde 60dC até mais ou menos 85dC quando Mateus vai escrever o Evangelho de Mateus para avivar na memória deles o Projeto de Jesus, a nova maneira de viver a Lei, desde sua Genealogia, que só em Mateus vão aparecer as cinco mulheres, que subvertem completamente os padrões do que era definido como aceitável pela Lei antiga. Jesus que fala através de parábolas para ser entendido claramente, usando métodos simples. Que nos diziam que devemos Celebrar a Páscoa da libertação através da Partilha, da solidariedade com os mais necessitados, com os que estão à margem do caminho, pois é para isso que somos enviados “Vão e façam com que todas as nações sejam minhas discípulas”. Estarei sempre com vocês até os confins da Terra.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ASSEMBLEIA ESTADUAL 2014

Texto: Celina Pereira
Fotos: Dilma Leão

De 19 a 21 de junho de 2014, aconteceu na sede da CNBB –N2 em BELÉM-PA, a Assembleia do CEBI- PARÁ. Estiveram presentes 22 pessoas, representado as áreas (interior) e núcleos (Região Metropolitana).  Com o tema indicado pelo CEBI-Nacional: “Dá-me de beber” – Nossas sedes –Nossas águas á partir do texto de João 4.
A Celebração de abertura com o Tema O Poço como Herança- Das Matriarcas ao CEBI foi uma motivação para entrarmos nas nossas águas e descobrirmos nossas sedes, em silêncio ouvimos a música de Iva Rhote chamada “Água”.



A seguir, refizemos o caminho das matriarcas para encontrarmos nossas origens, em grupos refletimos os textos: Gn 16,6-16; Gn 21,14-21; Gn 24,10-27; Gn 29,1-20; Ex 2,16-22; Nm 20,1-2+21,16-18, (Agar, Rebeca, Séfora, Míriam). Nos interrogamos: Essas mulheres ao caminhar ao poço tinham uma sede. Qual era a sua sede? E qual o nome do poço? Muitos foram os nomes dos poços ( da fortuna, da saudade,...)

Caminhando ao redor do poço, a cada estrofe do canto: “Eu vim de longe..” uma área ou núcleo se apresentava e derramava no poço sua água, expressando sua sede e  dizendo o nome do poço. Esse momento foi concluído com uma dança para criando uma ciranda de parceria, cumplicidade busca e utopia.


O Estudo do Capítulo 4 do Evangelho de João “Dá de beber” com o lema “Nossas sedes e nossas águas”, sugeridos pela Direção Nacional iniciou com as reflexões pessoais:
ÀGUA = SEDE = MATRIARCAS = ISREAL; a saber:
1-Qual o sentido da água para mim.
2-Qual a sede que carrego dentro de mim.
O CEBI poderá saciar nossas sedes? 

No encontro e no diálogo há um dar e acolher. Como este momento sacia a sede:

1-  Quais são as “samaritanas”, as águas, os poços alheios a nós, nas áreas sociais, culturais, religiosas, afetivo-sexuais, etc.com os quais nos deparamos em nossa realidade. Como.
2-   Como esses encontros nos fazem olhar e tomar consciência de nossas próprias águas, nossas sedes, nossos próprios poços.
3-  Como nos fazem refletir sobre nossas raízes culturais, nossa educação moral e afetivo-sexual.  
4-   Como esses encontros nos ajudam a purificar nossas águas e sirvam para que encontremos as águas vivas, as sagradas águas da vida, presentes tanto nas fontes mais profundas de nossas águas\poços como nas fontes das águas\poços que são diferentes das nossas. Na partilha dos grupos de reflexão e conclusão, foi muito forte questionado porque tinha que passar pela samaria e descobrimos que jesus tinha que fazer esse caminho, “Passar pela Samaria” – inclusão importante no texto, caminho que temos que trilhar e que às vezes não queremos. Emerge conflitos éticos, religioso, que divide, exclui. Jesus – teologia organizada, samaritana – teologia conflitante.  Na fala de Jesus refletimos “às vezes nossa teologia de vida não nos torna superiores?”. Lugar de se encontrar com Deus é na vida, pois é sagrada. Nossas águas, mais as águas das “samaritanas” faz brotar uma nova fonte. Jesus me faz conhecer quem eu sou (fonte de água).


Nessa assembleia foi eleita a nova coordenação do CEBI-PA 

terça-feira, 1 de julho de 2014

Dá-me de beber! Nossas sedes e nossas águas João 4,1-42




Durante a Assembleia do CEBI Pará refletimos sobre o texto da Samaritana. Deixamos ecoar dentro de nós as palavras do canto “Bendito poço” e a seguir nos interrogamos: Quais minhas sedes? Que outras sedes tenho, temos? Quais minhas águas? De que outras águas necessitamos? Que águas temos a oferecer? Que trocas de águas podemos estabelecer?
A seguir coletivamente narramos o texto de João 4,1-42. E após a narração, retomando o texto identificamos as cenas que compõem a narração.                                                                                                                                                                                                                                                                                                         
vv. 1-6 contextualização – tinha que passar pela Samaria
vv. 7-15 sede – água – como é que tu, judeu, pedes de beber  a mim, que sou samaritana
vv. 16-18 maridos – não tenho marido
vv. 19-24 onde adorar a Deus – em espirito e verdade profeta
vv. 25-26 Messias que há de vir – Sou eu que falo contigo Messias – Sou eu
vv. 28-30 deixou o cântaro – vinde e vede um homem que me disse quem sou   Cristo
vv. 8.27.31-33 discípulos – Mestre, come... uma comida que vos não conheceis
vv. 34-38 parábola da colheita – envie a ceifar... onde outros trabalharem
vv. 39-42 samaritanos permanece conosco Salvador do mundo

Apresentamos algumas reflexões que nos ajudaram a aprofundar e a encaminhar as reflexões nos grupos.

A Samaritana e o desmoronamento do culto sacerdotal

A cultura e religião judaica separavam e diferenciava a esfera do sagrado do profano, o puro do impuro, criando um sistema religioso que definia as modalidades de relação entre os dois campos através de mediações.
O templo de Jerusalém, lugar da presença da divindade, lugar das oferendas, dos sacrifícios rituais, do estudo, das peregrinações e das orações, lugar do encontro entre Deus e o ser humano, lugar onde morava a Shekinah. Esta Casa de Deus, no seu interno definia fortemente os espaços que consentiam a proximidade ao sagrado em diversa intensidade: o Santo dos Santos separava o divino do resto do santuário.
Havia criado um sistema que separava fortemente os gentios dos israelitas, as mulheres dos homens, o povo dos sacerdotes, Deus de uma humanidade necessitada de perdão e reconciliação. A aproximação com o divino necessitava de uma mediação, papel desenvolvido pela classe sacerdotal.
O encontro de Jesus com a Samaritana provoca uma reflexão profunda sobre esta realidade.
A Samaritana como mulher não podia ser aproximada em publico por um rabi; era impura, pois era de uma etnia que misturou-se; era herética cismática, os samaritanos haviam construído um templo sobre o monte Garizim.
O dialogo a leva a reconhecer Jesus como judeu, maior que o nosso pai Jacó, Senhor que faz prodígios, profeta, Messias escatológico, enviado do Pai, Salvador do mundo.
Encontramos porem o centro do dialogo nos versos 4,19-24. Em continuidade com os profetas Jesus indica a superioridade do culto espiritual sobre ritual. A Ruah conduz à verdade, à participação da vida de Deus. O verdadeiro culto vem de Deus não do ser humano necessitado de purificação, por isso não precisa de mediação, nem do templo, nem do culto, nem do sacrifício, nem do sacerdote.
Não é mais o templo o centro da vida religiosa, mas o mundo. A Ruah está presente no universo, na vida, na nova realidade religiosa a mulher então readquire sua dignidade e ela mesma entra em relação direta com dadiva que é Deus, é templo do Espirito.
Não precisa mais do homem, sacerdote que tem pureza legal, que oferece sacrifícios para ter o perdão. Deus mesmo se oferece para que as pessoas santificadas e libertadas pelo seu amor comuniquem vida.
Os não judeus e judeus, as mulheres e os homens, os pobres e os que têm, os pecadores e os justos podem adorar a Deus em qualquer lugar, ninguém está excluído do seu amor.
A narração conclui-se com a Samaritana, entre o estupor dos discípulos que não compreendem, porque Jesus fala com uma mulher e por cima herética. A mulher compreendeu, corre à sua cidade anunciar e muitos acreditaram nele e na palavra da mulher. Abandonou o cântaro, bebeu e deu de beber, não precisa mais do cântaro, dela jorra água viva. Águas que se misturam águas que doam vida.

Aconteceu outra vez ao poço ...

Aconteceu outra vez ao poço que se diz de Jacó. A rotina cotidiana levava a mulher ao poço, atingir água. “Era preciso passar pela Samaria” (João 4,1-6). Não, não era preciso! O judeu que transitava preferia alongar o caminho, mas não passar pela Samaria. É preciso passar, pois tem uma dívida a pagar.
O encontro! Um homem, judeu, mestre, desconhecido. Uma mulher, samaritana, popular, sem nome. O encontro, um pedido, a surpresa, a porta está aberta, o diálogo instaurado.
Diálogo que abre portas fechadas, que derruba muros antigos, que rompe silêncios atávicos. “Como tu... pedes... a mim?”. O homem lhe fala pedindo, não ordenando. Uma fala mansa, humilde, que pede. Quanto é novo este falar! Não são berros, ordens, arrogância, ira, grosseria que marcam esta fala. É voz que pede. Pedido de água.
Água a ser dada, água a ser recebida. Água que mata a sede do cansaço, da longa caminhada. Água que mata outra sede, bem mais amarga, bem mais cansada, de bem mais longa caminhada. Sede de esperanças perdidas, de sonhos frustrados, de utopias vencidas. Sede nascida no anonimato, na violência, nos abusos. Sede de reconhecimento, gratidão, prazer, companheirismo. Sede...
Água vida. Água viva. Água reconhecimento. Água relação. Água superação.
O andar de Jesus de Jerusalém para Galileia andar que se afasta da fama, do sucesso, andar a procura... Andar que leva ao poço.
O andar cotidiano da samaritana, andar que é tarefa pesada e entediante, tão rotineira que ninguém repara, reconhece, agradece... Andar que leva ao poço.
Poço, fonte que jorra água: água da promessa para Agar, água das núpcias para Rebeca, água do amor para Raquel, água da libertação para Séfora, água da lamentação porque Miriam morreu e os poços secaram. Água da passagem, da ausência, água de onde jorra a vida.

Se conhecesses o dom de Deus
e quem é quem te diz:
‘Dá-me de beber’,
Tu é que lhe pedirias
e ele te daria água viva!”

Ao poço o pedido, o oferecimento. Ao poço o reconhecimento que quebra as barreiras. Ao poço o reatar de um relacionamento antigo. Ao poço o encontro que vence as barreiras étnicas, religiosas, de gênero. Ao poço a recuperação da memória. Cinco maridos, cinco povos é lá que estão as raízes da identidade que aflora.
Ele me disse tudo o que eu sou!” A identidade acorda: quem eu sou? Sou Samaritana! Sou povo, sou gente, sou mulher, sou parceira!
Vinde encontrei um homem! Vinde encontrei o Cristo!”.
Anônima, Samaritana, Parceira do Reino que elimina as barreiras sociais, de raça de gênero. Parceira de Jesus no anuncio do Reino onde Deus é “Pai e quer ser adorado em espírito e verdade”.
Quem olha admira-se: “fala com uma mulher!”. “Meu alimento é fazer a vontade do Pai... alimento que vós não conheceis”.
Quem olha é homem, é cego, a sociedade patriarcal venda seus olhos. Nem a proximidade com o Mestre conseguiu curar a cegueira.
A vontade do Pai é pagar a dívida, é resgatar quem fora escravizada, é restaurar a imagem e semelhança de Deus: mulher-homem.
Saíram do poço, prosseguiram caminhando, na parceria do Reino, rompendo barreiras, vencendo preconceitos, superando obstáculos, apontando, fascinando, conquistando amizades, engrossando as fileiras, anunciando ... provocando...
Saíram andando, a cruz no caminho, a morte na espreita para aniquilar o sonho. Zombando diziam: vencemos! Nada nos derruba! Temos cúmplices: homens e mulheres, ricos e pobres, sábios e estultos, cleros e leigos. Temos cúmplices: a filosofia, a cultura, a religião, a teologia...

Com estas e outras reflexões fomos aos grupos perguntando-nos:

1.   Quais são “as samaritanas”, as águas, os poços alheios a nós com os quais nos deparamos em nossas realidades?
2.  Como esses encontros nos fazem olhar e tomar consciência de nossas próprias águas, nossos próprios poços?
3.   O que precisamos e como podemos fazer para que esses encontros nos ajudem a purificar nossas águas e sirvam para que encontremos as “águas vivas”, as sagradas águas da vida, presentes tanto nas fontes mais profundas de nossas águas/poços como nas fontes mais profundas das águas/poços que são diferentes das nossas?

Tea Frigerio

                                                                         Missionaria de Maria - Xaveriana 

domingo, 15 de junho de 2014

Feminina ou feminista?

Por Tea Frigerio



Esclarecimento: 


  • Não feminina. Pressupõe o eterno feminino. O ideal feminino não existe foi criado pelo patriarcado. Baseia-se na construção social de gênero que elaborou papeis masculinos e femininos, características, atitudes que ao longo dos séculos o mundo patriarcal-machista determinou para a mulher e as introjetou para torna-las absolutas.
  • Sim feminista. Assumir a condição de mulher numa humanidade sexuada. Assumir a realidade da mulher numa estrutura social que determinou para mulher um papel dependente, subordinado e que ocultou na historia seu protagonismo, sua presença, silenciando sua voz.
  • Não uma leitura a partir de... na ótica de... pois isso muitas vezes para no vitimíssimo ou constatando, quando olha a umas mulher como uma heroínas. Leitura assumindo a situação da mulher empobrecida da América Latina.
  • Feminista, porque como mulher ler, interpretar, pronunciar sua palavra especifica sobre Deu*s, sobre a Palavra de Deu*s. Expressar sua palavra libertando-a e libertando-se do que os homens, os teólogos consideram “cientifico”.
  • A palavra ‘feminismo’ pode criar conflito e nem sempre é aceita. Não ter medo e receio disso. O conflito já existe é em ato desde... Vale a pena salientar que não existe um único feminismo, existem variadas formas de feminismo.

1.      Hermenêutica


  • A hermenêutica é a ciência da interpretação de textos; usada também para o estudo e leitura do texto bíblico. Salientamos alguns aspectos para podermos realizar uma hermenêutica com espirito livre.
  •  Ir ao texto com as perguntas que animam a vida da mulher hoje. 
  • Superar os condicionamentos do patriarcalismo, entre eles a ideia que o ‘texto bíblico é sagrado e por isso é intocável’. O texto bíblico não é neutro, o contexto em que foi escrito e depois interpretado foi e é marcado pelo patriarcado.
  • Respeitar a autonomia do texto. O respeito exige que a partir do escrito se possa alcançar a memoria, presença, silenciamento, manipulação e a voz da mulher na historia e no cotidiano subjacente ao texto.
  • Alimentar constantemente a suspeita ideológica.

2.      Suspeita ideológica

Aceitando o pressuposto que o texto bíblico não é neutro, mas tem a marca da sociedade patriarcal em que foi escrito e a seguir interpretado, então a suspeita ideológica é legitima. Popularmente: ir ao texto com uma pulga atrás da orelha que nos incomoda!

  • Interrogar-se o que está por trás de certos textos? (Eclo 26,1-18; Prov 31,10-31; Lc 8,1-3; você sem duvida tem outros).
  •  A ideologização de umas mulheres (Sara; Rebeca; Debora; Ester e não Vasti; Judite...
  • Por que apresenta-las como inimigas, antagônicas? (Sara – Agar; Lia – Raquel; Vasti – Ester; Marta –Maria; e outras...)
  •  Textos que são esquecidos, nunca são lidos (Tamar, 2Sm 13)
  • Textos que silenciam, omitem, ocultam (Ex 15,1-18; Nm 12,1-10; 1Cor 15,1ss parece não conhecer a tradição dos sinóticos sobre as mulheres testemunhas da ressurreição).
  • A pratica na ICAR de ler as mulheres do 1Testamento em função de Maria, apresentada como a mulher do ‘sim’, do silencio.
  • Valorizar algumas mulheres tornando-as ‘heroínas’ e interpretá-las a partir do homem e até masculinizá-las (ex Debora, Jael). 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

CATEGORIA DE GÊNERO



FALAR DE GÊNERO (Por Tea Frigério) 

As Palavras fazem história. A palavra gênero – gender está ligada a historia do movimento feminista.
Séc. XIX – ao redor dos anos 1890 Elisabeth Cady Stanton apresenta ao público a primeira tradução da
Bíblia da Mulher. O seu movimento está ligado ao Movimento sufragista que pedia a liberdade de voto para
as mulheres.
Nos anos de 1960 ao redor das preocupações sociais num quadro teórico nasce o conceito de gênero.
Em 1968 há um marco ligado à contestação ou a chamada revolução cultural: começam os estudos sobre a
mulher. Nos estudos sobre a mulher podemos identificar três níveis:
- categoria descritiva: é importante, mas ainda não suficiente, pois se limita a descrever a realidade da
mulher.
- categoria analítica: vai mais fundo, pois se interroga sobre o porquê dos fatos. As mulheres são uma
categoria social? As mulheres de diferentes categorias sociais têm os mesmos interesses? Como as relações
de gênero podem explicar as relações entre etnias, raças, classes?
- ferramenta política e instrumental de luta: é a meta a ser alcançada.

ROMPER O SILÊNCIO

A categoria de gênero torna visível a que era ocultada, rompe os muros do espaço doméstico. A mulher entra no mundo do trabalho. Podemos analisar dois fatos: 1º na primeira guerra mundial quando os homens foram para guerra, as mulheres passaram a ocupar os espaços do trabalho fora do doméstico para manter a produção industrial e para prover à família. Quando a guerra terminou e os homens voltaram, as mulheres tiveram que voltar no interior da casa. 2º na segunda guerra mundial aconteceu o mesmo, mas as mulheres não voltaram mais para o interior da casa, ficaram no mundo do trabalho.
Ao permanecer no mundo do trabalho obrigou a mulher a assumir os dois espaços: trabalho remunerado e trabalho doméstico. Observa-se também outros elementos, no mundo do trabalho em geral a mulher é dirigida por homens, é secundária, de apoio, e quando ocupa espaços masculinos para ser aceita deve assumir os moldes masculinos e em geral seu salário é inferior ao percebido pelos homens. Há uma denuncia: a ausência da presença da mulher nas artes – letras – política.
Gênero surge para superar o determinismo do sexo. Apresentamos uma definição:


GÊNERO: é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. Forma primeira de significar as relações de poder.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Instrumentais para trabalhar os cinco passos da Leitura Feminista da Bíblia




1.      Categoria de gênero

A sociedade é um tecido de relações: sociais, geracionais, étnicas, classe e gênero. Elas são relações construídas determinando papeis e atitudes. As relações de gênero masculino e feminino são uma conceituação que cada grupo social elabora determinando o papel a ser ocupado pela mulher e pelo homem na sociedade e as atitudes a serem vividas.
Entendemos como consciência de gênero a capacidade de entender o ser mulher - homem dentro dos parâmetros sócio-culturais e as relações pre-costituidas.

2.      Leitura histórica a partir da perspectiva da mulher

A história oficial é his-tory, quer dizer história de homens vencedores, ricos e brancos. As mulheres sobrevivem, melhor são silenciadas e anuladas, quando muito se fala “atrás de um grande homem há uma grande mulher”’. Esta maneira de fazer história é também arraigada na bíblia e presente nas nossas igrejas. Esta tradição marcou a historia da exegese, da teologia, enfim nossa historia de fé é historia patriarcal.
Valem por isso também aqui os três verbos: descontruir – nomear – reconstruir.

3.      Teologia e Espiritualidade da mulher

Nosso corpo de mulher nos faz sentir Deus de outro modo. Todo nosso ser fala de Deus: Ele tem entranhas, tem útero, tem seios... Cuidados maternais, gratuidade, fidelidade... Força criadora e regeneradora...
Nosso corpo de mulher fala da Deusa.
Nosso corpo de mulher nos desafia a nomear a Deusa, a encontrar a Palavra que revela a Deusa e a espiritualidade que nos deve sustentar em dar à luz relações novas entre mulheres, mulheres e homens, humanidade e a criação, mulheres e homens com o transcendente.
É construtivo reler criticamente o mundo simbólico da mulher a partir da realidade cotidiana.

4.      Autoridade Bíblica

O texto é um tecido. Tecido urdido a muitas mãos e com fios coloridos. O texto é um corpo que se encontra com os nossos corpos. Vida que se encontra com as nossas vidas.
Dois corpos que se encontram: o corpo das mulheres e o corpo que é o texto bíblico. Dois corpos que perguntam que querem se tocar, toques e perguntas amorosas, mas também tristes.
É a partir disso que nasce a interrogação sobre autoridade bíblica. Pergunta que se encontra com uma certeza: a vida é sagrada.
A reconstrução das relações no cotidiano, reconstrução dos corpos que se encontram é um dos coloridos da nova espiritualidade: a divindade que se revela como dádiva nas relações dos corpos e dos corpos-textos.
Autoridade bíblica que se revela nas múltiplas relações que tecem a vida, que assume a defesa da vida como sagrada.
Liberdade de encontrar a autoridade bíblica nos nossos corpos e nas nossas relações cotidianas e políticas em defesa da vida. Liberdade de dar respostas parciais, que são luzes ao hoje, mas que amanhã podem ser iluminadas ulteriormente.
Liberdade de recriar, reescrever, festejar, celebrar os textos bíblicos para encontrar o sagrado em nossa vida cotidiana e política

domingo, 25 de maio de 2014

5 PASSOS PARA A LEITURA FEMINISTA DA BÍBLIA


Entendemos por chave de Leitura Feminista da Bíblia o caminho de interpretação que possibilite uma hermenêutica bíblica feminista, que leve a uma leitura libertadora da Bíblia.
A bíblia, para nós mulheres, foi por muito tempo um livro fechado, não somente, ele foi usado para legitimar a exclusão, o domínio, a dependência e até a violência sobre a mulher.
Encontrar a chave para abrir a porta hermeneuticamente fechada, desse livro, é de fundamental importância, pois ao abri-lo poderemos encontrar a Palavra que aponte o caminho para uma leitura e vivencia libertadora da Bíblia.
Chave que consta de cinco passos e três instrumentais.



1º Passo: realidade
A vida, a realidade das mulheres em sua condição de pobre, seu corpo de mulher, suas lutas para se libertar do machismo, sexismo, racismo impostos ou introjetados. Apreender a ler simbolismo que revela a experiência humana o que as palavras não conseguem expressar. Penetrar o simbolismo ligado ao universo da mulher: útero, seios, menstruação, menopausa, casa, amor, alimentação, abnegação.

2º Passo: interagir
Encontrar as mulheres na Bíblia e dialogar com elas. Perceber que apesar da distancia histórica nossa vidas estão interligadas, interagem. O simbolismo ligado ao nosso universo de mulher é presente na bíblia e nos fala do mundo feminino: poço, água, maternidade... Miriam, as parteiras, Rute...

3º Passo: suspeitar
O Patriarcado anulou, escondeu, ignorou, silenciou a presença da mulher na história e na Bíblia. A suspeita é atitude, é a intuição que nos abre as possibilidades de investigar. Este passo nos permite buscar, encontrar a presença da mulher seja na história como na bíblia: presença esquecida, negada, silenciada, explorada, dominada, sempre em função de...
Liberdade de fazer perguntas embora as vezes nos sentimos incomodadas em tocar o texto bíblico.
É importante confrontar as traduções e suspeitar delas. Fazendo perguntas: Onde acontece? Quando acontece? Como acontece? O que acontece? O que se diz da pessoa?
Comparar com outros textos (intratextual). Verificar as palavras chaves e aprofundar compreendendo-as no texto e no ambiente. Mas também confrontar com outros textos fora da Bíblia (extratextual).

4º Passo: desconstruir – nomear
Os três primeiros passos nos preparam a dar o quarto passo. Momento muito importante, pois nos coloca em contato direto com o texto buscando uma exegese fiel ao texto e as mulheres. Este momento exige um estudo serio e fiel, para poder:
Desconstruir: o que o patriarcado nos transmitiu e deixou como herança.
Nomear: a mulher como sujeita da historia e da revelação. Dar o nome é reconhecê-las como protagonistas da historia.

5º Passo: reconstruir


A partir da pesquisa, exegese, interpretação realizada, dos novos paradigmas históricos, da revelação e da teologia tendo a mulher como sujeita. Devolver a presença e a palavra às mulheres. Liberdade de recriar, reescrever, festejar, celebrar os textos bíblicos para encontrar o sagrado em nossa vida cotidiana e política.